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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ferrovias na contramão!

Este texto foi escrito pelo grande empresário : ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES em sua coluna no Jornal Folha de São Paulo de 19.08.2007.


Por achá-lo por demais interessante publico neste Blog.

Ferrovias na contramão!


HÁ MAIS de cem anos, o barão de Mauá lutou pela construção de estradas de ferro e de sistemas de navegação fluvial por saber que, em um país continental como o nosso, o transporte de carga teria de contar com uma solução barata e segura.


Ele bancou 40% do custo da primeira ferrovia, construída em Petrópolis, em 1854, e, em associação com os ingleses, iniciou a estrada Recife-São Francisco, a dom Pedro 2º (depois Central do Brasil) e a São Paulo Railway, de Santos a Jundiaí.


Chegamos ao início do século 20 com cerca de 30 mil quilômetros de ferrovias -o que era nada para a dimensão e necessidades do Brasil.


Em 1944, eram 35 mil quilômetros, que continuou sendo muito pouco.
Pois bem, no relatório da Agencia Nacional de Transporte Terrestre de 2006, li que, depois de 150 anos, nossa malha ferroviária caiu para 29 mil quilômetros e, em uma reportagem do jornal "Valor" desta semana, verifico que descemos para 28 mil quilômetros ("Infra-estrutura: custo dificulta ampliação das ferrovias", 13/8/2007).


Andamos para trás enquanto o mundo caminhou para a frente. Na Europa, as malhas ferroviárias se expandiram extraordinariamente, incluindo trens de alta velocidade (mais de 300 km/h) que servem para o transporte de passageiros entre as grandes cidades.


Não tem cabimento continuarmos com 28 mil quilômetros de estradas de ferro e movimentar cargas basicamente por transporte rodoviário, que é caro, poluente e exigente de um tipo de manutenção que o país não agüenta.


Além de serem precárias, as ferrovias do Brasil são irrisórias. O minúsculo Japão tem 23 mil quilômetros de estradas de ferro de boa qualidade. A Argentina tem 34 mil quilômetros; a Austrália, 41 mil; a Alemanha, 45 mil; a Índia, 63 mil; o Canadá, 64 mil; a China, 71 mil; a Rússia, 87 mil, e os Estados Unidos, quase 200 mil quilômetros.


É verdade que os investimentos são altos. Mas, se o governo não tem recursos, que se busque a iniciativa privada, mediante concessões de longo prazo. Muitas empresas estrangeiras já manifestaram o seu interesse. Por que não partir para parcerias, inclusive para interligar os três aeroportos de São Paulo ( Congonhas, Guarulhos e Viracopos )?


O retorno desse investimento pode ser pequeno quando se leva em conta apenas a receita do transporte, mas é enorme quando se considera a geração de empregos e de tributos, assim como a redução da poluição e dos acidentes e a ativação da economia, pois, afinal, os dormentes, as locomotivas, os vagões, a eletrificação, enfim, tudo é nacional.


Vamos lá, Brasil, mãos à obra!


Mais uma vez ele está certo, será que nosso políticos, governantes eleitos pelo voto democrático terão vontade política para levar adiante um projeto como este ?


Será ??????




domingo, 19 de agosto de 2007

OS MORALISTAS - Luis Fernando Veríssimo

Este é mais um texto do Veríssimo, retirado do projeto Releituras de Arnaldo Nogueira Junior.

Os Moralistas

Luis Fernando Verissimo


— Você pensou bem no que vai fazer, Paulo?

— Pensei. Já estou decidido. Agora não volto atrás.

— Olhe lá, hein, rapaz...

Paulo está ao mesmo tempo comovido e surpreso com os três amigos. Assim que souberam do seu divórcio iminente, correram para visitá-lo no hotel. A solidariedade lhe faz bem. Mas não entende aquela insistência deles em dissuadi-lo. Afinal, todos sabiam que ele não se acertava com a mulher .

— Pense um pouco mais, Paulo. Reflita. Essas decisões súbitas...

— Mas que súbitas? Estamos praticamente separados há um ano!

— Dê outra chance ao seu casamento, Paulo.

— A Margarida é uma ótima mulher.

— Espera um pouquinho. Você mesmo deixou de freqüentar nossa casa por causa da Margarida.
Depois que ela chamou vocês de bêbados e expulsou todo mundo.

— E fez muito bem. Nós estávamos bêbados e tínhamos que ser expulsos.

— Outra coisa, Paulo. O divórcio. Sei lá.

— Eu não entendo mais nada. Você sempre defendeu o divórcio!— É. Mas quando acontece com
um amigo...

— Olha, Paulo. Eu não sou moralista. Mas acho a família uma coisa importantíssima. Acho que a família merece qualquer sacrifício.

— Pense nas crianças, Paulo. No trauma.

— Mas nós não temos filhos!

— Nos filhos dos outros, então. No mau exemplo.

— Mas isto é um absurdo! Vocês estão falando como se fosse o fim do mundo. Hoje, o divórcio é uma coisa comum. Não vai mudar nada.

— Como, não muda nada?

— Muda tudo!

— Você não sabe o que está dizendo, Paulo! Muda tudo.

— Muda o quê?

— Bom, pra começar, você não vai poder mais freqüentar as nossas casas.

— As mulheres não vão tolerar.

— Você se transformará num pária social, Paulo.

— O quê?!

— Fora de brincadeira. Um reprobo.

— Puxa. Eu nunca pensei que vocês...

— Pense bem, Paulo. Dê tempo ao tempo.

— Deixe pra decidir depois. Passado o verão.

— Reflita, Paulo. É uma decisão seriíssima. Deixe para mais tarde.

— Está bem. Se vocês insistem...

Na saída, os três amigos conversam:

— Será que ele se convenceu?

— Acho que sim. Pelo menos vai adiar.

— E no solteiros contra casados da praia, este ano, ainda teremos ele no gol.

— Também, a idéia dele. Largar o gol dos casados logo agora. Em cima da hora. Quando não dava mais para arranjar substituto.

— Os casados nunca terão um goleiro como ele.

— Se insistirmos bastante, ele desiste definitivamente do divórcio.

— Vai agüentar a Margarida pelo resto da vida.

— Pelo time dos casados, qualquer sacrifício serve.

— Me diz uma coisa. Como divorciado, ele podia jogar no time dos solteiros?

— Podia.

— Impensável.

— É.

— Outra coisa.

— O quê?

— Não é reprobo. É réprobo. Acento no "e".

— Mas funcionou, não funcionou?

SONETO DE AGOSTO

Com estamos em agosto, nada melhor do que publicar este soneto, retirado do Livro :
A SAUDADE DO COTIDIANO, título substituto do Livro NOVOS POEMAS de 1938 de nosso Eterno Poeta VINICIUS DE MORAES.

Soneto de agosto

Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.